No dia 15 de novembro de 1908, Zélio foi convidado a participar de uma sessão espírita que lhe ajudasse a superar males físicos de que sofria, sem esperança de cura. Transcrevo abaixo, em itálico, o relato por mim livremente adaptado dos episódios dessa noite:
Tomado por força superior a sua vontade, Zélio manifestou-se em frases que não controlava:
"Sinto falta da flor", enquanto depositava uma rosa no centro da mesa. Sob protestos dos médiuns tradicionais, restabelecida a corrente mediúnica, manifestaram-se espíritos que se diziam de pretos escravos e de índios, diante da incredulidade e recusa dos tradicionalistas.
Zélio, ou Quem por ele se manifestava, questionou os motivos da não-aceitação da presença desses espíritos que se autoanunciavam, denunciando seu alegado 'atraso' como forma preconceituosa, resultante apenas da diferença de cor e de classe social que revelavam.
A entidade anunciou, então, o início de um culto novo, no qual espíritos de pretos escravos e de índios trariam sua mensagem e cumpririam sua missão espiritul no atendimento das gentes. Atribuiu-se o nome de Caboclo das Sete Encruzilhadas, para cuja ação não haveria caminhos fechados.
Essa entidade fundadora retornou no dia seguinte, conforme anunciara, para solenemente declarar iniciado a novo culto em que (a) espíritos de velhos escravos, que não encontravm campo de atuação nas seitas de origem africana remanescentes (...).
O Caboblo das Sete Encruzilhadas acentuou em sua fala inicial a destinação da nova religião, para falar aos humildes, simbolizando a igualdade entre todos os homens e mulheres para a prática da caridade, do amor fraterno, sob o Evangelho e tendo Jesus, como Mestre.
PERRI, Flávio Miragaia. O Encanto dos Orixás. Rio de Janeiro, Expressão e Cultura, 2002.
(páginas 26-27)
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